Na psicologia, não existe “por acaso”; o que não é consciente é inconsciente. A escolha dessa temática, portanto, não foi aleatória. Ela foi escolhida para simbolizar a jornada terapêutica, utilizando a cerâmica como uma metáfora do trabalho entre a psicóloga e o paciente. Afinal, transformar barro em cerâmica também é um processo complexo.
Primeiro, o artesão amassa a argila, e, se ela estiver seca, adiciona-se água para torná-la maleável. De forma semelhante, o processo terapêutico começa com a preparação, onde o paciente precisa encontrar um horário, investir recursos financeiros e, principalmente, comprometer-se psiquicamente. Em alguns casos, é necessário “adicionar água” por meio de tratamento multidisciplinar e uso de psicofármacos.
Em seguida, a peça é levada ao forno em alta temperatura, um momento crítico, pois ela pode trincar ou se quebrar. Na psicoterapia, essa fase é chamada de resistência e é onde o terapeuta trabalha traumas, sintomas e outras demandas específicas. Por isso, é crucial um manejo especializado para evitar “quebras” ou “trincas”.
Posteriormente, se tudo correr bem, ocorre a esmaltação, que não apenas embeleza a peça, mas também a protege contra a água. Esse processo é onde a beleza da matéria-prima é acentuada. Após a pintura, a peça é levada ao forno novamente, que pode ser em alta ou baixa temperatura, dependendo do esmalte.
Isso corresponde à fase de elaboração ou integração na análise, onde o paciente começa a ter uma compreensão mais profunda de seus conflitos inconscientes e dos padrões que afetam seu comportamento e emoções. Cabe ao psicólogo selecionar se é necessário ser em “alta” ou “baixa” temperatura.
Destaca-se que, às vezes, é necessário refazer a pintura, pois o artesão só visualiza o resultado final após a queima. Por isso, vale lembrar que um profissional ético não pode prometer a priori resultados ao seu paciente, assim como os artesãos.
Chegamos, então, à fase do acabamento da peça, que na clínica corresponde à fase da finalização da análise. Nessa etapa, ocorrem mudanças profundas nos modos de inscrição simbólica dos sujeitos. Ou seja, mesmo que problemas antigos persistam ou novos surjam, o paciente mudou.
Portanto, assim como não é possível criar uma cerâmica idêntica a outra, não existe uma terapia igual à outra, mesmo sendo a mesma terapeuta e a mesma ciência. Na verdade, a análise é, em parte, (re)criada a cada novo paciente, assim como o artesão que (re)cria em cada nova obra.
Vale lembrar que, na cerâmica, o acabamento faz toda a diferença, e isso varia de artesão para artesão. Da mesma forma, na psicologia, cada profissional tem um estilo de “acabamento” único.